Terapia Ocupacional da Uepa: 40 anos de história e inovação científica

O curso de Terapia Ocupacional (TO) da Universidade do Estado do Pará (Uepa) completa 40 anos em abril e realizará uma programação comemorativa entre os dias 14 e 16, no Campus II do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), em Belém. Pioneiro no estado na formação de terapeutas ocupacionais na região norte do Brasil, o curso promoverá também uma Mostra Científica. Um dos destaques recentes é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado Cidadania Cultural e Engajamento Ocupacional de Frequentadores de Festas de Aparelhagem: diálogos entre participar e pertencer, vencedor do Prêmio Melhor TCC da Uepa em Terapia Ocupacional.

As festas de aparelhagem, tradição cultural de Belém, expandiram-se pelo estado do Pará como espaços de lazer e caracterizam-se por dinâmicas econômicas, estéticas e tecnológicas próprias, produzindo experiências baseadas neste estilo de padrão musical. O estudo, desenvolvido pelas alunas Hevelyn Maria Pereira e Grazielly Silva Pires, e orientado pela docente Ingrid Bergma da Silva Oliveira, analisou como o engajamento em festas de aparelhagem fortalece a cidadania cultural dos frequentadores e observou que o interesse do público nas festas de aparelhagem é fortemente influenciado pelo ambiente familiar, que possui um papel essencial na introdução e permanência nesse universo no cotidiano de novos adeptos. Baseadas nos padrões musicais do estilo brega, o engajamento ocupacional está diretamente ligado às conexões interpessoais e aos fatores sociais e culturais que influenciam as vivências dos indivíduos.

A cidadania cultural garante o direito de produzir, usufruir, ressignificar a cultura, além de promover a formação, experimentação e o trabalho cultural transformador. Segundo o estudo, esta mesma cidadania cultural é prejudicada pela associação do público das festas de aparelhagem à marginalidade, devido à estética, como cabelo e vestimentas, reforçando preconceitos contra a comunidade dita “bregueira” com estereótipos pejorativos. 

De acordo com a orientadora da pesquisa, Ingrid Oliveira, o estudo aborda a eficácia simbólica das festas de aparelhagem em Belém, sua popularidade e protagonismo como lazer de massa e sua legitimidade cultural, possuindo raízes profundas e interações entre público, proprietários e funcionários do sistema de sonorização. “Além de espaços de entretenimento, essas festas carregam memórias afetivas, influências familiares e servem como fonte de renda, fortalecendo o sentimento de pertencimento, identificação e resistência cultural. No entanto, essas práticas ainda enfrentam preconceito e estigmatização, dificultando o reconhecimento das festas de aparelhagem como expressão legítima de cidadania cultural e a percepção dos próprios participantes sobre seu papel na preservação desse patrimônio”, ressaltou. 

Para as alunas egressas do curso de TO da Uepa, Grazielly Pires e Hevelyn Pereira, o estudo trouxe para o cenário científico/acadêmico a valorização da cultura das festas de aparelhagem evidenciando seus significados, elementos e importância como um dos grandes símbolos culturais do Pará. Grazielly destacou que os eventos vão além do entretenimento, sendo espaços de resistência, cidadania cultural, pertencimento, identidade e geração de renda. Já Hevelyn ressaltou a “potência de uma cultura historicamente marginalizada que tem resistido e ganhado destaque. O estudo buscou incentivar essa valorização cultural e inserir no meio acadêmico as potencialidades existentes por meio do engajamento dos seus frequentadores nas festas como espaços culturais, de lazer e palco social no espaço paraense”. A pesquisa reforça a importância de ampliar esse debate na Terapia Ocupacional.

Curso

Com tradição em formar terapeutas ocupacionais na Amazônia, o curso gera conhecimento e produções científicas inovadoras. De acordo com a coordenadora do curso, professora Débora Folha, não faltam motivos para celebrar a construção de uma história sólida e permeada por pioneirismos. “Buscamos formar profissionais com uma perspectiva interdisciplinar, centrada nas relações e no desenvolvimento profissional, focada no contexto regional e nacional, alinhados aos princípios de educação interprofissional e permanente. O Curso de Terapia Ocupacional da Uepa carrega consigo a tradição de ter sido a primeira escola de formação de terapeutas ocupacionais do Norte do Brasil; sendo também, por quase três décadas, a única escola de formação, responsável por fornecer terapeutas ocupacionais para os municípios do interior do Pará e para outros estados da região Norte e do país”, destacou. 

A integralização do curso é feita em cinco anos e, atualmente, conta com mais de 180 alunos regularmente matriculados em Belém; e 36 em Marabá, pelo programa Forma Pará. Os egressos atuam em diversas áreas, e a pesquisa e extensão são incentivadas por meio de financiamentos e bolsas. 

Em serviços dentro do CCBS, como na Unidade de Ensino e Assistência em Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Ueafto), vinculada ao SUS e às práticas e estágios do curso, atuam cerca de 50 estudantes por semestre, que fazem rodízio. Dessa forma, anualmente, passam cerca de 100 estudantes do curso em práticas e estágio na Unidade, incluindo o serviço da Oficina Ortopédica Fixa. Segundo a professora Débora, este número aumenta ao considerar os projetos de pesquisa (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica /PIBIC) e extensão, “visto que, além dos projetos realizados pelos nossos docentes, há também os projetos coordenados pelos profissionais da Ueafto”. 

Para a coordenadora, comemorar 40 anos é celebrar o Jubileu de Esmeralda, simbolizando amor, esperança, renovação e equilíbrio. “A esmeralda, uma das gemas mais valiosas, destaca-se por sua cor vibrante e resistência. Celebrar o Jubileu de Esmeralda do curso de Terapia Ocupacional significa valorizar a sua trajetória e grandiosidade, reconhecer seu amadurecimento e fortalecimento mediante a superação de adversidades ao longo do tempo e celebrar seu potencial para um futuro em que se vislumbra esperança diante dos desafios e potencial diante das necessidades”.

Mostras Histórica e Científica

Uma programação alusiva aos 40 anos do Curso será realizada no período de 14 a 16 de abril, aberta ao público. Na segunda-feira, 14, pela manhã, ocorrerá a Mostra Histórica e Cultural do Curso de Terapia Ocupacional da Uepa, no Campus II. No dia 15, às 15h, será realizada a cerimônia de comemoração dos 40 anos do curso, no auditório da Ueafto, que contará com entrega de homenagens e a conferência magna “40 anos de histórias e conquistas para a Terapia Ocupacional na Uepa: Panorama e Perspectivas”, com o professor Lucivaldo da Silva Araújo.

Também no auditório, no dia 16, a partir das 8h30, está programada a “Mostra Científica do Curso de Terapia Ocupacional, Tradição, Inovação e Reconhecimento na Formação de Terapeutas Ocupacionais na Amazônia”. Para esta Mostra, estudantes e profissionais de TO de outras instituições puderam submeter seus trabalhos e os 3 melhores trabalhos da Mostra Científica serão premiados. Ainda como parte da programação, foi escolhido um selo comemorativo em alusão aos 40 anos do curso, que traz, entre os detalhes, uma fênix e ramos de flores, e foi desenvolvido pela aluna Marlena Gomes, do 4º ano do curso. A escolha foi feita por discentes e docentes da comunidade acadêmica, técnicos da Ueafto/CER III, e egressos da instituição.

Texto: Diane Maués, jornalista (Centro de Ciências Biológicas e da Saúde) 

Foto: Divulgação

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